Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Pela primeira vez na história do país, brasileiras e brasileiros elegeram uma presidenta mulher. E, apesar de sua reeleição, muitas mensagens de ódio têm circulado pelos canais de expressão da sociedade, sobretudo pelas redes sociais.

As agressões dirigidas à presidenta não representam apenas manifestações de ordem política, mas são reflexo de uma violência simbólica que atinge diversos setores da sociedade e que faz das mulheres sua principal vítima.

Em virtude disto, a Professora Dra. em Linguística da Universidade Federal do Oeste do Pará, Ediene Pena, escreveu um depoimento como forma de análise e denúncia das atitudes machistas que circundam todos os eixos da vida:

“Não, não sou petista! E não me venham com essa história de que sou coxinha, porque também não sou (e se fosse, teria todo o direito de o ser)! Mas tenho ficado extremamente incomodada com os comentários e atitudes preconceituosas que vêm circulando nas redes sociais e nas ruas contra Dilma, não a presidenta, mas a mulher.

Dia desses estava trabalhando com uma turma de Letras a disciplina Linguística e comentei que a sociedade, com características machista e patriarcal, costuma utilizar palavras que ofendem a mulher (tinha escolhido a palavra denigrem, mas lembrei que a expansão semântica do verbo denegrir reflete também nosso preconceito), mesmo quando o alvo de ataque é o homem.

Quando um homem é do tipo Eduardo Cunha, dizem que ele é “um filho da puta!”; ou “corno!”. Veja, o ataque parece ser ao homem, mas a ofensa é sempre à mulher! Quando um homem é casado e a mulher descobre que ele tem uma amante, os xingamentos são sempre feitos à mulher, “ela é vadia”, “oferecida”, “seduziu meu marido”, “piranha”, “não se deu ao respeito”, merece ser agredida. E o homem? Ah, o homem, coitado, foi seduzido, fez apenas o papel dele, o de macho! Até quando a mulher é estuprada, a culpa é dela, afinal “ela deve ter dado mole”! Isso tudo é aviltante! Ridículo! É uma clara demonstração de misoginia! Merece ser combatido, criminalizado!

O pior de tudo, o mais triste, o mais desalentador é ouvir isso de muitas mulheres… é saber que muitas mulheres pensam assim e educam seus filhos para ter essa mentalidade. Estamos em pleno século XXI, mas a culpa pela expulsão do paraíso continua sendo de Eva!

Quando se discute o aborto, sempre se pensa na mulher, ela é a criminosa, ela deve ser punida pelo crime (em sociedades, claro, em que isso é considerado crime). Mas… e o homem? Até onde eu sei, filhos ainda se fazem com a participação especial de um homem. Se a mulher aborta, ele também é criminoso, ele também deve ser punido, porque o filho também é dele! Mas nunca vi esse tipo de manifestação. Nenhum panelaço contra a atitude masculina de abandono da mulher e da criança. As ofensas que estão sendo dirigidas à Presidente Dilma refletem tudo isso! Nunca vi postarem adesivos com Lula, FHC, Itamar, Collor, Sarney em posições obscenas. Mesmo com todas as críticas que sempre foram feitas a todos eles. Se as coisas vão mal, é porque “Dilma é vadia”! “É uma galinha”! “Tribufu”! Nunca ouvi dizer que a economia ia mal porque o FHC era feio, nem porque a gravata dele não combinava com o paletó!

Ora, me façam o favor! Essas agressões deixam de ser a uma figura pública, para ser ao sexo (e ao gênero) feminino! Não podemos admitir esse tipo de agressão, que vem sendo feita desde que o homem das cavernas puxava as mulheres pelos cabelos! A palavra de ordem é RESPEITO. Este texto não defende Dilma (mesmo porque acho que ela não precisa da minha defesa). Esse texto foi feito para mostrar meu respeito às mulheres, às minhas avós, minha mãe, minhas irmãs, tias, sobrinhas, primas, cunhadas, professoras, alunas, amigas… relações que os que criaram os adesivos parecem não ter.”

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